segunda-feira, 2 de junho de 2014

Fórum do Audiovisual do Mercosul debate o mercado de webséries





No fim do mês de maio aconteceu em Florianópolis o 18º FAM – Festival Audiovisual do Mercosul. Em meio a uma extensa programação que contou com oficinas, exibições de longas e curtas de toda a América Latina e também uma interessante mostra convidada de filmes turcos, houve um importatne espaço para debates chamado Fórum Audiovisual do Mercosul. Estiveram presentes grandes nomes do cenário cinematográfico nacional para apresentar e debater importantes temas ligados ao audiovisual, dentre eles o novo mercado das webséries.

Estiveram presentes no debate a paulista Caroline Fioratti, da websérie“Botolovers”, sobre a vida de jovens na cidade grande através da história de Nara, Patrick e João Eugênio e que formam um casal triplo; Guto Aeraphe, de “ApocalipZe”, “Heróis”, “Heróis do Fogo” e “Nascido Morto” e também dono do site www.webseriados.com; e do produtor local Gringo Starr, da websérie “Remakers”, e dono de uma escola de atores, a Actoro.

Os participantes da mesa falaram sobre suas experiências, erros, acertos e descobertas neste novo modo de se comunicar com os espectadores. Para o diretor Guto Aeraphe, que trabalha com webséries há cerca de cinco anos, o fundamental é entender que a mudança está na forma como nos relacionamos com as histórias. “É preciso criar uma experiência de entretenimento, envolver o espectador das mais diversas formas”, afirmou o diretor. Já para Caroline, um dos pontos mais interessantes da internet é a liberdade para trabalhar temas que são tabus nas emissoras abertas e também o tipo de relacionamento que se cria com a audiência que se tornam mais que fãs. Ainda de acordo com da diretora, isso cria oportunidades mercadológicas muito interessantes como o licenciamento de marcas e produtos relacionados às webséries.


O produtor local Gringo Starr, da websérie Remakers, falou sobre a dificuldade de se produzir de maneira independente e também da falta de reconhecimento do formato. O ator e diretor reforçou que tanto o mercado como o público ainda vê o formato de webséries como algo menor do que os produtos feitos para TV e cinema, o que de acordo com ele é um grande equívoco já que só por que um produto não conta com atores famosos não quer dizer que ele não tenha potencial de investimento e audiência. “O importante é fazer um bom produto que atenda aos desejos do público”, afirma o diretor.

Este ponto foi reforçado pelo diretor Guto Aeraphe que acredita em uma inversão de valores. A audiência da TV ao vivo está caindo, enquanto o consumo audiovisual na internet cresce. Por isso, é preciso deixar os conceitos analógicos como grade de programação, a relação unilateral e transmissão em um único aparelho para abraçar os conceitos digitais: TV em qualquer lugar, uso da segunda tela, variedade de conteúdo e poder da audiência. Tudo isso nos leva a uma nova forma de pensar histórias. As narrativas transmídias, que prezarem pela interação com o leitor, terão mais sucesso. “O audiovisual é - e será - o meio mais consumido. E ele vai além da tela”, concluiu Guto.


O público presente, em sua maioria formado por produtores de televisão e cinema, foi uníssono em suas questões. A grande dúvida era saber como tornar uma websérie um produto rentável ou mesmo auto sustentável para seus realizadores. Um concenso entre os participantes da mesa é de que a monetização do Youtube não é o melhor caminho, já que o portal da Google paga muito pouco pelas visualizações e é preciso ter números gigantescos para se ter alguma remuneração interessante. Além do mais o portal não diferencia, em termos de monetização, o canal que investe em qualidade técnica, atores e equipe daqueles que simplestemente filmam qualquer coisa de qualquer jeito como pais filmando suas criancinhas fazendo alguma gracinha ou seu bichinho de estimação fofinho.

A verdade é que a industria do audiovisual está passando por um processo muito semelhante ao que a indústria fonográfica passou há alguns anos, primeiro com o surgimento do “MP3” que possibilitou que os aruivos tivessem uma compressão maior com mais qualidade, facilitando não só o seu armazemanto com o surgimento de dispositivos capazes de ter um gigantesta biblioteca ao toque de nossos dedos, como também a troca de arquivos entre pessoas através de redes como Napster; culminando com a loja do itunes que nos aprensentou uma nova forma de se vender e comprar músicas, dando a nós consumidores o poder de escolher somente aquelas músicas que quisermos e não um disco inteiro.

O Youtube é apenas o começo. A difusão do conhecimento das técnicas de produção e finalização, e o barateamento do custo dos equipamentos de captação fez surgir um número gigantesco de novos talentos que têm seus públicos fiéis espalhados por todo o mundo. De acordo com Caroline, diretora de “Botolovers” o seu canal no YouTube ajudou a criar um público pequeno - mas fiel. “Nas redes sociais, esse contato se expandiu e até uma linguagem própria foi criada entre os fãs da série”, afirma a diretora. Isso mostra que para se ter sucesso não é necesário ter um canal com milhões de acessos e sim criar um público fiel. Claro que juntar estes dois fatores é o ponto alto de nossos desejos. No entanto, no Brasil isso só é possível, infelizmente, quando quando as webséries têm rostos conhecidos da TV falando falando obcenidades...

Mas assim como foi com a indústria fonográfica, engana-se quem acredita que esta mudança de paradigma virá com a aprovação das grandes redes que, sabendo do potencial de audiência desdes produtores de webséries, os enxergam como verdadeiros inimigos. Prova disso é que o projeto de lei da deputada Jandira Fegalli que trata da regionalização da programação televisiva e que está parado há anos por causa do lobby das grandes emissoras. De acordo com elas, um dos motivos para a não aprovação, seria o que que não haveria uma produção suficiente para preencher a grade de programação. Talvez eles não tenham internet em casa... A revolução virá pelas mãos dos produtores e principalmente do público que cada vez mais rejeita as velhas fórmulas novelescas e busca na rede mundial de computadores uma alternativa de entretenimento.







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