No fim do mês de maio aconteceu em Florianópolis o 18º FAM –
Festival Audiovisual do Mercosul. Em meio a uma extensa programação
que contou com oficinas, exibições de longas e curtas de toda a
América Latina e também uma interessante mostra convidada de filmes
turcos, houve um importatne espaço para debates chamado Fórum
Audiovisual do Mercosul. Estiveram presentes grandes nomes do cenário
cinematográfico nacional para apresentar e debater importantes temas
ligados ao audiovisual, dentre eles o novo mercado das webséries.
Estiveram presentes no debate a paulista Caroline Fioratti, da
websérie“Botolovers”, sobre a vida de jovens na cidade grande
através da história de Nara, Patrick e João Eugênio e que formam
um casal triplo; Guto Aeraphe, de “ApocalipZe”, “Heróis”,
“Heróis do Fogo” e “Nascido Morto” e também dono do site
www.webseriados.com; e do produtor local Gringo Starr, da websérie
“Remakers”, e dono de uma escola de atores, a Actoro.
Os participantes da mesa falaram sobre suas experiências, erros,
acertos e descobertas neste novo modo de se comunicar com os
espectadores. Para o diretor Guto Aeraphe, que trabalha com webséries
há cerca de cinco anos, o fundamental é entender que a mudança
está na forma como nos relacionamos com as histórias. “É preciso
criar uma experiência de entretenimento, envolver o espectador das
mais diversas formas”, afirmou o diretor. Já para Caroline, um dos
pontos mais interessantes da internet é a liberdade para trabalhar
temas que são tabus nas emissoras abertas e também o tipo de
relacionamento que se cria com a audiência que se tornam mais que
fãs. Ainda de acordo com da diretora, isso cria oportunidades
mercadológicas muito interessantes como o licenciamento de marcas e
produtos relacionados às webséries.
O produtor local Gringo Starr, da websérie Remakers, falou sobre a
dificuldade de se produzir de maneira independente e também da falta
de reconhecimento do formato. O ator e diretor reforçou que tanto o
mercado como o público ainda vê o formato de webséries como algo
menor do que os produtos feitos para TV e cinema, o que de acordo com
ele é um grande equívoco já que só por que um produto não conta
com atores famosos não quer dizer que ele não tenha potencial de
investimento e audiência. “O importante é fazer um bom produto
que atenda aos desejos do público”, afirma o diretor.
Este ponto foi reforçado pelo diretor Guto Aeraphe que acredita em
uma inversão de valores. A audiência da TV ao vivo está caindo,
enquanto o consumo audiovisual na internet cresce. Por isso, é
preciso deixar os conceitos analógicos como grade de programação,
a relação unilateral e transmissão em um único aparelho para
abraçar os conceitos digitais: TV em qualquer lugar, uso da segunda
tela, variedade de conteúdo e poder da audiência. Tudo isso nos
leva a uma nova forma de pensar histórias. As narrativas
transmídias, que prezarem pela interação com o leitor, terão mais
sucesso. “O audiovisual é - e será - o meio mais consumido. E ele
vai além da tela”, concluiu Guto.
O público
presente, em sua maioria formado por produtores de televisão e
cinema, foi uníssono em suas questões. A grande dúvida era saber
como tornar uma websérie um produto rentável ou mesmo auto
sustentável para seus realizadores. Um concenso entre os
participantes da mesa é de que a monetização do Youtube não é o
melhor caminho, já que o portal da Google paga muito pouco pelas
visualizações e é preciso ter números gigantescos para se ter
alguma remuneração interessante. Além do mais o portal não
diferencia, em termos de monetização, o canal que investe em
qualidade técnica, atores e equipe daqueles que simplestemente
filmam qualquer coisa de qualquer jeito como pais filmando suas
criancinhas fazendo alguma gracinha ou seu bichinho de estimação
fofinho.
A verdade é que a industria do audiovisual está passando por um
processo muito semelhante ao que a indústria fonográfica passou há
alguns anos, primeiro com o surgimento do “MP3” que possibilitou
que os aruivos tivessem uma compressão maior com mais qualidade,
facilitando não só o seu armazemanto com o surgimento de
dispositivos capazes de ter um gigantesta biblioteca ao toque de
nossos dedos, como também a troca de arquivos entre pessoas através
de redes como Napster; culminando com a loja do itunes que nos
aprensentou uma nova forma de se vender e comprar músicas, dando a
nós consumidores o poder de escolher somente aquelas músicas que
quisermos e não um disco inteiro.
O Youtube é apenas o começo. A difusão do conhecimento das
técnicas de produção e finalização, e o barateamento do custo
dos equipamentos de captação fez surgir um número gigantesco de
novos talentos que têm seus públicos fiéis espalhados por todo o
mundo. De acordo com Caroline, diretora de “Botolovers” o seu
canal no YouTube ajudou a criar um público pequeno - mas fiel. “Nas
redes sociais, esse contato se expandiu e até uma linguagem própria
foi criada entre os fãs da série”, afirma a diretora. Isso mostra
que para se ter sucesso não é necesário ter um canal com milhões
de acessos e sim criar um público fiel. Claro que juntar estes dois
fatores é o ponto alto de nossos desejos. No entanto, no Brasil isso
só é possível, infelizmente, quando quando as webséries têm
rostos conhecidos da TV falando falando obcenidades...
Mas assim como foi com a indústria fonográfica, engana-se quem
acredita que esta mudança de paradigma virá com a aprovação das
grandes redes que, sabendo do potencial de audiência desdes
produtores de webséries, os enxergam como verdadeiros inimigos.
Prova disso é que o projeto de lei da deputada Jandira Fegalli que
trata da regionalização da programação televisiva e que está
parado há anos por causa do lobby das grandes emissoras. De acordo
com elas, um dos motivos para a não aprovação, seria o que que não
haveria uma produção suficiente para preencher a grade de
programação. Talvez eles não tenham internet em casa... A
revolução virá pelas mãos dos produtores e principalmente do
público que cada vez mais rejeita as velhas fórmulas novelescas e
busca na rede mundial de computadores uma alternativa de
entretenimento.
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