terça-feira, 10 de junho de 2014

Webséries e o Mercado Nacional

“(...) O futuro é ter a consciência de que, se tudo já é digital, não faz mais sentido pensar num conteúdo como se ainda existissem duas formas de consumo, a digital e a analógica. Devemos pensar os produtos já com a visão de que podem e têm de ser atraentes não importa como serão consumidos.” Com estas palavras Roberto Irineu Marinho, presidente das Organizações Globo, se dirigiu a seus funcionários durante o seu discurso anual de final de ano dando um grande recado para o mercado nacional.

Confirmando o discurso a emissora lançou suas primeiras webséries exclusivas (sem ligação com outro produto da grade televisiva) dentro do seu novo portal de entretenimento chamado Gshow. Ainda sem grandes orçamentos ou presenças de atores do primeiro escalão da emissora, as webséries “ATORmentados” e “A Lei de Murphy” são sim um sinal de que algo está mudando no mercado. No entanto ainda há muito o que fazer como afirmou Erick Bretas, diretor de Mídias Digitais da Globo, sobre o Gshow: “Será um grande laboratório para experimentação de formatos, talentos artísticos e experiências criativas.”



Mas quando tratamos de realizadores independentes, como fica o mercado? Um dos grandes problemas enfrentados hoje é com obter um retorno financeiro para que os trabalhos independentes sejam auto-sustentáveis ao longo do tempo. Na tentativa de responder a esta pergunta, diversas outras aparecem causando grandes incertezas em todos os segmentos da cadeia produtiva. O fato é que cada vez mais os modelos de negócio tendem a serem parecidos com o que hoje é adotado pela televisão. No entanto há uma grande diferença que produtores, agências e anunciantes precisam entender para chegarem a um acordo e tornarem o mercado sustentável. Diferente da TV os índices da internet são mais qualitativos, baseados no tripé audiência-fã-comunidade.

Isto quer dizer que não basta somente observarmos a quantidade de “views” de determinado video, mas sim qual o comportamento deste websespectador que visualizou o conteúdo. Observando desta maneira, um “Viral-Qualquer-Amador” que consegue um milhão de visualizações não necessariamente é uma boa opção de investimento para um anunciante, já que o “valor” do conteúdo que ele está disseminando é baixo e efêmero, não gerando uma identidade com o produto ou serviço anunciado e consequentemente afetando negativamente a imagem da marca diante do seu público.

A medida certa para se criar uma boa websérie que atraia anunciantes está em cruzar um conteúdo relevante, identificado através de demandas do mercado, com uma audiência específica e que busca estabelecer “metas de viralização”. Desta forma você terá dados suficientes para negociar com os seus futuros anunciantes.

Apesar de lermos aqui e acolá diversas matérias falando das maravilhas da internet há diversos outros problemas a serem enfrentados por aqueles que produzem webséries no Brasil e vão além da criação e desenvolvimento de conteúdo de sucesso. O principal deles é uma mudança cultural no hábito de consumo de mídia pelos brasileiros. Sem dúvida evoluímos bastante e a cada ano o brasileiro está mais conectado. No entanto, de acordo com o estudo realizado em outubro de novembro de 2013 e divulgado no mês de março de 2014 pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, diz que nada menos que 97% dos entrevistados afirmaram ver TV diariamente, sendo que apenas 47% têm o hábito de acessar a internet.

Esta distância fica ainda maior quando os entrevistados indicam o seu meio de comunicação preferido: 76,4% preferem a TV, seguido por 13,1% que optam pela internet internet. Mas nem tudo está perdido... A pesquisa, também traz dados que permitem observar uma tendência para os próximos anos. Como em outros países, devemos continuar assistindo também no Brasil a um crescimento da adesão aos meios digitais de comunicação. Entre os mais jovens, na faixa de 16 a 25 anos, a preferência pela TV cai a 70% e a citação à internet sobe a 25%, ficando o rádio com 4% e os demais com menções próximas de 0%.

O problema é que o Brasil enfrenta diversas dificuldades estruturais quando o assunto é a rede mundial de computadores. Ainda de acordo com a pesquisa, enquanto a maioria dos brasileiros (53%) nunca acessa a internet, aproximadamente um quarto da população o faz nos dias da semana e com uma intensidade diária de 3h39. Além disso, os resultados mostram que a maioria dos entrevistas (84%) acessa a internet via computador, seguindo pelo celular (40%) e uma pequena parcela (8%) utiliza tablets.

Diversos fatores influenciaram estes números como por exemplo o alto preço dos tablets e principalmente dos serviços de internet oferecidos tanto pelas operadoras de telefonia como de outras empresas. Sem contar com a baixa qualidade dos serviços e a falta de segurança para utilizarmos um dispositivo móvel nas ruas de nossas cidades.



Mas há um outro ponto importante a se observar. Com o advento dos aparelhos SmartTV (ou tvs inteligentes) teríamos uma grande oportunidade de mercado para os realizadores independentes de webséries, já que teríamos a possibilidade de transmitir diretamente ao nossos consumidores da forma como ele está acostumado: no conforto da sua sala.

Mas novamente há problemas... Apesar de praticamente todas as marcas e modelos terem conexão com a internet, boa parte das pessoas que compram não ativam o produto, seja pela dificuldade de conexão (muitos modelos mais básicos não tem wifi e dependem de cabos que nem sempre são disponíveis), seja pela dificuldade na navegação que é complexa e lenta, além do que o desenvolvimento de aplicativos dependem de uma série de acordos com os fabricantes que nem sempre estão acessíveis aos produtores independentes.


 Diante desta informações, qual será o futuro dos produtores independentes que querem investir no audiovisual para internet? Não há um caminho fácil ou rápido, mas há grandes possibilidades em vista! A transmissão em dispositivos móveis é uma realidade incontestável, mas acredito que cometerá um grande pecado mercadológico aquele que produzir somente para este tipo de dispositivos. É preciso pensar a internet como meio e não como fim. Ela vai apenas transmitir o conteúdo que será exibido em diversas plataformas que serão escolhidas de acordo com a conveniência do nosso websespectador.

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