“(...)
O futuro é ter a consciência de que, se tudo já é digital, não
faz mais sentido pensar num conteúdo como se ainda existissem duas
formas de consumo, a digital e a analógica. Devemos pensar os
produtos já com a visão de que podem e têm de ser atraentes não
importa como serão consumidos.” Com estas palavras Roberto Irineu
Marinho, presidente das Organizações Globo, se dirigiu a seus
funcionários durante o seu discurso anual de final de ano dando um
grande recado para o mercado nacional.
Confirmando
o discurso a emissora lançou suas primeiras webséries exclusivas
(sem ligação com outro produto da grade televisiva) dentro do seu
novo portal de entretenimento chamado Gshow. Ainda sem grandes
orçamentos ou presenças de atores do primeiro escalão da emissora,
as webséries “ATORmentados” e “A Lei de Murphy” são sim um
sinal de que algo está mudando no mercado. No entanto ainda há
muito o que fazer como afirmou Erick Bretas, diretor de Mídias
Digitais da Globo, sobre o Gshow: “Será um grande laboratório
para experimentação de formatos, talentos artísticos e
experiências criativas.”
Mas
quando tratamos de realizadores independentes, como fica o mercado?
Um dos grandes problemas enfrentados hoje é com obter um retorno
financeiro para que os trabalhos independentes sejam
auto-sustentáveis ao longo do tempo. Na tentativa de responder a
esta pergunta, diversas outras aparecem causando grandes incertezas
em todos os segmentos da cadeia produtiva. O fato é que cada vez
mais os modelos de negócio tendem a serem parecidos com o que hoje é
adotado pela televisão. No entanto há uma grande diferença que
produtores, agências e anunciantes precisam entender para chegarem a
um acordo e tornarem o mercado sustentável. Diferente da TV os
índices da internet são mais qualitativos, baseados no tripé
audiência-fã-comunidade.
Isto
quer dizer que não basta somente observarmos a quantidade de “views”
de determinado video, mas sim qual o comportamento deste
websespectador que visualizou o conteúdo. Observando desta maneira,
um “Viral-Qualquer-Amador” que consegue um milhão de
visualizações não necessariamente é uma boa opção de
investimento para um anunciante, já que o “valor” do conteúdo
que ele está disseminando é baixo e efêmero, não gerando uma
identidade com o produto ou serviço anunciado e consequentemente
afetando negativamente a imagem da marca diante do seu público.
A
medida certa para se criar uma boa websérie que atraia anunciantes
está em cruzar um conteúdo relevante, identificado através de
demandas do mercado, com uma audiência específica e que busca
estabelecer “metas de viralização”. Desta forma você terá
dados suficientes para negociar com os seus futuros anunciantes.
Apesar
de lermos aqui e acolá diversas matérias falando das maravilhas da
internet há diversos outros problemas a serem enfrentados por
aqueles que produzem webséries no Brasil e vão além da criação e
desenvolvimento de conteúdo de sucesso. O principal deles é uma
mudança cultural no hábito de consumo de mídia pelos brasileiros.
Sem dúvida evoluímos bastante e a cada ano o brasileiro está mais
conectado. No entanto, de acordo com o estudo realizado em outubro de
novembro de 2013 e divulgado no mês de março de 2014 pela
Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, diz
que nada menos que 97% dos entrevistados afirmaram
ver TV
diariamente, sendo que apenas 47% têm o hábito de acessar a
internet.
Esta
distância fica ainda maior quando os
entrevistados indicam o seu
meio de comunicação
preferido: 76,4% preferem a TV, seguido por
13,1% que optam pela internet internet. Mas nem tudo está perdido...
A pesquisa, também traz dados que permitem observar uma tendência
para os próximos anos.
Como em outros países, devemos continuar
assistindo também no Brasil a um crescimento da adesão aos meios
digitais de comunicação. Entre os mais jovens, na faixa de 16 a 25
anos, a preferência pela TV cai a 70% e a citação à internet sobe
a 25%, ficando o rádio com 4%
e os demais com menções próximas
de 0%.
O
problema é que o Brasil enfrenta diversas dificuldades estruturais
quando o assunto é a rede mundial de computadores. Ainda de acordo
com a pesquisa, enquanto a maioria dos brasileiros (53%) nunca
acessa a internet, aproximadamente um quarto da população o faz nos
dias da semana e com uma intensidade diária de 3h39. Além disso, os
resultados mostram que a maioria dos entrevistas (84%) acessa a
internet via computador, seguindo pelo celular (40%) e uma pequena
parcela (8%) utiliza tablets.
Diversos
fatores influenciaram estes números como por exemplo o alto preço
dos tablets e principalmente dos serviços de internet oferecidos
tanto pelas operadoras de telefonia como de outras empresas. Sem
contar com a baixa qualidade dos serviços e a falta de segurança
para utilizarmos um dispositivo móvel nas ruas de nossas cidades.
Mas
há um outro ponto importante a se observar. Com o advento dos
aparelhos SmartTV (ou tvs inteligentes) teríamos uma grande
oportunidade de mercado para os realizadores independentes de
webséries, já que teríamos a possibilidade de transmitir
diretamente ao nossos consumidores da forma como ele está
acostumado: no conforto da sua sala.
Mas
novamente há problemas... Apesar de praticamente todas as marcas e
modelos terem conexão com a internet, boa parte das pessoas que
compram não ativam o produto, seja pela dificuldade de conexão
(muitos modelos mais básicos não tem wifi e dependem de cabos que
nem sempre são disponíveis), seja pela dificuldade na navegação
que é complexa e lenta, além do que o desenvolvimento de
aplicativos dependem de uma série de acordos com os fabricantes que
nem sempre estão acessíveis aos produtores independentes.
Diante
desta informações, qual será o futuro dos produtores independentes
que querem investir no audiovisual para internet? Não há um caminho
fácil ou rápido, mas há grandes possibilidades em vista! A
transmissão em dispositivos móveis é uma realidade incontestável,
mas acredito que cometerá um grande pecado mercadológico aquele que
produzir somente para este tipo de dispositivos. É preciso pensar a
internet como meio e não como fim. Ela vai apenas transmitir o
conteúdo que será exibido em diversas plataformas que serão
escolhidas de acordo com a conveniência do nosso websespectador.
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