quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Minha coluna na revista Zoom Magazine deste mês






A internet revolucionou nossos hábitos, sem dúvida. Isso se levarmos em conta que a melhor medida de uma revolução tecnológica é seu impacto na vida das pessoas comuns, com mudanças significativas no modo como produzimos algo e principalmente como esse “algo” desencadeia ações que transformam as relações sociais. Talvez você esteja lendo este artigo em seu notebook, tablet ou smartphone. Não importa. O que interessa é que hoje vivemos a “Era das Telinhas”. Um tempo onde tudo está em movimento e em todos os lugares, principalmente em dispositivos que se tornaram extensões, verdadeiras próteses de nosso corpo e mente. 

E é exatamente isso que acontece com as webséries, um fenômeno que você provavelmente já ouviu falar e que aos poucos está criando força entre os internautas, trazendo para o nosso universo os mais diversos temas e formatos. Mas engana-se quem pensa que webséries são apenas “alguns vídeos colocados na internet”. 

A verdade é que esta não é apenas uma nova forma de se ver conteúdos audiovisuais, mas sim uma nova forma de pensar e produzir estes conteúdos que estão abrindo portas para novos e grandes talentos que antes não tinham uma oportunidade para realizarem e mostrarem seus trabalhos. E não estamos falando aqui de vídeos amadores, mas de vídeos com produção esmerada, bons roteiros e finalização impecável. Produções que competem de igual para igual (e que na minha humilde opinião até superam) qualquer produção da televisão aberta no país. 

Vamos aqui, e nas próximas edições, tentar entender este novo fenômeno e também dar dicas para aqueles que querem entrar neste novo universo. 



Um novo espectador? 

O fato é que nossos hábitos estão diferentes. Enquanto assistimos tevê estamos conversando no facebook pelo smartphone, curtindo, compartilhando ou comentando o conteúdo. Este fenômeno é chamado de TV social e é considerado pelo MIT como uma das dez maiores tendências para o futuro. Neste contexto é que apresento o conceito de narrativa transmídia, fundamental para entendermos e realizarmos uma boa websérie. 

Em suma, narrativa transmídia é aquela que se desenrola por meio de múltiplos canais de mídia, cada um deles contribuindo de forma distinta para a compreensão do universo narrativo. Uma narrativa transmídia não deve possuir uma única boa história, mas sim um rico universo onde podem se desenvolver diversas histórias e diversos personagens, através de livros, filmes, quadrinhos, sites, etc. Mas é importante entender que cada acesso a “franquia” deve ser autônomo, afim de que seja possível consumir e interagir de forma satisfatória com um sem a necessidade se conhecer os outros, ao menos sem a necessidade de se conhecer profundamente. 

Isso estabelece uma profundidade de experiência de compreensão do universo que motiva ainda mais o espectador, de uma forma afetiva e duradoura. Imersos nestes universos, os fãs passam a desenrolar discussões sobre múltiplas interpretações das histórias, criar novas histórias a partir de seus pontos de vista, investigar a biografia de seus personagens favoritos e descobrir informações que não foram esclarecidas totalmente em todos os produtos. Como exemplos temos a série Lost: Missing Pieces ou Heroes: Going Postal. Por vezes, este formato foi utilizado para lançar pequenas séries que serviam para fazer a ponte entre duas temporadas da mesma série, mantendo o interesse do espectador, ou ainda como suporte para campanhas publicitárias diversas. 

Como tudo começou 

De acordo com Umberto Eco o formato de série diz respeito, íntima e exclusivamente, à estrutura narrativa. Temos uma situação fixa e certo número de personagens principais da mesma forma fixos, em torno dos quais giram personagens secundários que mudam, exatamente para dar a impressão de que a história seguinte é diferente da história anterior. 

Com as webséries não é diferente. Na verdade, em sua essência, as webséries nada mais são do que a fórmula clássica das séries televisivas aplicadas ao universo multiplataforma da internet. E sem dúvida o público que consome este tipo de produto é o mesmo que consome a tradicional dramaturgia de forma seriada na TV. Talvez a grande diferença esteja no comportamento fragmentado do público e não o público em si, já que em sua maioria, quer algo além da passividade da tela do televisor. Ele quer interagir, participar ativamente do universo proposto.

Em seu período inicial de maturidade, as webséries eram criadas como complemento a séries de televisão, apresentando histórias paralelas ou complementares da história principal, A primeira referência sobre o conceito de websérie surgiu com os pesquisadores espanhóis Nuria Romero e Fernando Centellas, em seu ensaio sobre novas narrativas audiovisuais. O conceito de webséries é renovado mais tarde por Henry Jenkins, em seu livro Cultura da Convergência. Ele classifica as webséries como estratégias para narrativas transmidiáticas. No entanto o que vemos hoje é que as webséries ganharam força e se desvencilharam das amarras das séries de tevê ou franquias de cinema para ganhar vida e fãs próprios. Vários exemplos recentes se webséries como “The Guilt”, “The Confession” e “House of Cards”, esta última exclusiva do Netflix, comprovam isso. O Brasil não está atrás e tem excelentes exemplos de webséries que caíram no gosto do público como “Lado Nix”, “Onda Zero”, “ApocalipZe” e “Heróis”. 

Na próxima edição vamos falar sobre como escrever para o formato de webséries. Até lá!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Cinema Digital para todos!


Há pouco mais de 10 anos eu tive o prazer de conhecer uma pessoa que influenciou muito meus conceitos sobre cinema e com certeza foi responsável por tudo que faço hoje. Com um pensamento visionário, ele defendia quase que como um profeta suas idéias de que o cinema digital e as novas tecnologias de comunicação iriam mudar o rumo de toda uma indústria. Isso antes de existir o Youtube e o Facebook. Sem falar que as DSLRs eram apenas embriões... Esta pessoa é Tony Martin. Um peruano, mestre em Biologia Marinha, mas que se tornou um apaixonado contador de histórias através de imagens. Aprendi muito com ele e hoje presto aqui minha pequena homenagem. Obrigado Tony pelos ensinamentos!!!

Abaixo segue o texto de uma carta aberta de Tony Martin na íntegra, editada originalmente para a Tenda Tecnológica, um espaço pensado e criado por Tony para a 6ª Mostra de Cinema de Tiradentes em 2003. O projeto tinha como lema, “cinema digital para todos”.





Carta do Coordenador. 

Este novo ano começou com um sentimento de mudança e crescimento em todo o país. Um forte desejo de encontrar soluções capazes de oferecer melhores condições de vida para nossa população e em especial para as camadas mais marginalizadas de nossa sociedade. Para isso um dos elementos fundamentais é ampliar a capacidade de comunicação da população.

A democratização das grandes redes e de outros instrumentos de comunicação capazes de melhor escutar os anseios da população é um grande desafio, mas além deste acredito que seja essencial explorar a capacidade interativa das novas tecnologias disponíveis, tornando a produção audiovisual acessível à população. Isto quer dizer, instrumentá-los para que eles possam expressar livremente sua cultura, ideais, anseios, reivindicações e sonhos.

Neste sentido a tenda tecnológica assume seu papel social ao apresentar os bastidores da produção cinematográfica digital e sobretudo estimular e motivar os visitantes a contar as suas próprias histórias através de imagens e sons,  despertar a alma de cineasta que cada um de nós possui.

Um cinema que, usando tecnologias digitais, possa viabilizar o sonho de cada escola, centro de formação, associaçôes de bairros, asilos, hospitais, de ter seus próprios centros de comunicação digital, interligados por internet e munidos de equipamentos digitais simples mas poderosos capazes de erradicar  o novo mal que rapidamente se aproxima do horizonte: o analfabetismo digital.

O Brasil se destaca por ser um celeiro mundial de jogadores de futebol, isto porque diariamente, em cada canto deste país, existem crianças jogando futebol, mesmo que seja em campos de terra e com bolas de meia. Desta forma, porque não estimular nestas crianças o gosto por dominar um computador e uma câmera e deixá-la produzir livremente suas histórias em videos?

Provavelmente em poucos anos o Brasil se destacaria também como celeiro mundial de cineastas e comunicadores visuais. A tenda tecnológica nasceu deste desejo de compartilhar conhecimentos não somente para quem domina este universo de imagens e sons, mas principalmente para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de se aproximar dele.

Finalmente, gostaria de agradecer a participação de todas as empresas convidadas, profissionais e a coordenação geral da Mostra de Tiradentes que tornaram possível viabilizar mais uma vez este espaço de interação e conhecimento.




terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Direto na internet


Mesmo sem tantos recursos, produtores brasileiros aproveitam a flexibilidade e produzem séries para a internet
Jotagá Crema, diretor da websérie 3% FOTO: Paulo Liebert/Estadão
Enquanto grandes empresas como Amazon e Netflix movimentam o cenário do conteúdo original para internet nos EUA, criadores brasileiros acompanham com interesse. O mercado local é limitado e boas ideias enfrentam uma batalha difícil para ir além do episódio piloto.
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“No Brasil, a capacidade de investimento e o retorno de publicidade ainda estão começando a crescer. Não há o mesmo montante da televisão tradicional”, diz o paulistano Jotagá Crema, diretor da websérie 3%.
Sua série, uma ficção científica distópica, pode ser considerada um dos grandes sucessos do formato.No ar no YouTube desde maio de 2011, as três partes do piloto somam mais de 700 mil visualizações. O dinheiro para a parte inicial do projeto, R$ 250 mil, veio de um edital da TV Brasil. Para dar continuidade e realizar os 13 episódios da primeira temporada, a equipe de 3% espera que a visibilidade no YouTube traga interessados no projeto.
Outra websérie brasileira de qualidade que saiu de um edital, neste caso da Lei Rouanet, foi Heróis. Dirigida pelo mineiro Guto Aeraphe, ela conta a história de três pracinhas brasileiros que enfrentaram sozinhos uma tropa alemã em número muito maior. “Ela nasceu como um média-metragem. Mas acabei partindo em episódios e coloquei de forma seriada na internet.”
Os diretores acreditam que o know-how de empresas como Netflix e Amazon deve incentivar a produção de conteúdo para a web. Há especificidades que merecem ser observadas. A ideia da Netflix de lançar os 13 episódios de House of Cards de uma vez foi considerada acertada.
Aeraphe remete à sua própria experiência com Heróis, em que os episódios eram semanais. “A audiência foi muito grande na primeira, depois vai caindo”, lembra. Para o diretor, a internet é um meio que provoca uma gigantesca distração, com a qual as séries têm de lidar.
“Estamos olhando uma coisa e de repente aparece outra do lado que nos convida a clicar e vamos lá. É um grande perigo para quem cria.” Em ApocalipZe, sua segunda série, os episódios foram lançados de uma vez.
“A audiência mais jovem tem menos paciência para esperar tantos episódios toda semana. Na internet, podemos assistir às obras de uma maneira não linear, tudo de uma vez ou vendo um por dia”, complementa Crema. Ele oferece um exemplo pessoal para a tendência. “Gosto de fazer cursos no Coursera (site de vídeo-aulas), mas não preciso seguir a ordem proposta. Minha maneira de estudar lá também é não linear.”
Sobre o tempo de um episódio, Crema acredita que é recomendável “que não passe muito de dez minutos”. Já Aeraphe fala em “oito minutos” como a duração ideal, mas elogia a possibilidade de um episódio não ter duração fixa por não estar sujeito às fronteiras de uma grade de televisão. “O que não pode é ser muito longo ou tão curto que não dê para desenvolver.”
O ano de 2012 assistiu a um boom de séries brasileiras para a internet. Mas o cenário segue independente, sem sinal de envolvimento de grandes emissoras ou empresas. Não é algo de todo ruim, segundo Aeraphe. “Infelizmente não tem jeito, somente quando os grandes trabalharem as webséries por aqui haverá abertura para o mercado. Mas quando isso ocorrer, os independentes estarão estruturados e profissionalizados, com um know-how que as TVs não vão ter”, diz. Crema completa: “Lentamente, elas estão acordando e percebendo que a internet não pode ser vista como acessório”.

Produção própria


Enquanto emissoras de TV tradicionais levam a programação para a internet, empresas online como Netflix começam a criar conteúdo
Semana passada, estreou uma nova série chamada House of Cards. Apesar dos nomes famosos envolvidos, como o diretor David Fincher (A Rede Social) e o ator Kevin Spacey (Beleza Americana), o que mais chama a atenção no lançamento é a mídia em que ela estreou: em nenhum canal de televisão tradicional, mas sim na locadora online Netflix.
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Plataforma diferente, regras diferentes. Primeiramente, todos os 13 episódios de House of Cards foram colocados no site de uma só vez. Se o telespectador quiser começar a ver a série pelo 12º episódio ou ver todos de uma vez, é ele quem escolhe. E na hora que quiser.
Depois, uma novidade que deve agradar o espectador brasileiro. Além da estreia mundial simultânea, as legendas em português estão disponíveis desde o primeiro dia.
House of Cards não precisa nem ser uma série boa (as críticas, no entanto, têm sido em geral positivas) para entrar para a história. Na corrida da convergência entre internet e televisão, em que a fronteira fica cada vez menos definida, a série representa um marco: uma empresa de internet, que antes era intermediária, começa a produzir conteúdo original próprio.
A Netflix nasceu nos anos 90 como locadora de DVDs por correio. Evoluiu para o negócio de streaming de vídeos no seu site. Se tornou um dos gigantes da internet. Um relatório de 2011 apontou que um terço do tráfego americano de streaming noturno é via Netflix (o YouTube responde por 13% e o Facebook, 2%). Agora começa uma nova etapa.
“O objetivo é se tornar a HBO mais rapidamente do que a HBO possa se transformar em nós”, disse em entrevista à revista GQ Ted Sarandos, executivo responsável pelo conteúdo da Netflix, o homem que faz a ponte entre a empresa e o mundo do entretenimento. “É uma aposta… e das altas”, afirmou Kevin Spacey ao jornal The Telegraph.
A empreitada vai além de House of Cards. A Netflix prepara o lançamento de duas séries cômicas e uma de terror. A empresa planeja investir US$ 300 milhões nos próximos três anos nesta área.
Enquanto isso, a gigante do varejo online Amazon, através de sua plataforma Amazon Studios, aposta na descoberta de novos talentos. Ela abriu em 2012 um processo de seleção de pilotos de longas-metragens e séries que já recebeu milhares de roteiros. A Amazon bancará a produção dos pilotos selecionados. Os mais votados pelo público serão concretizados. Além disso, a empresa fará uma versão seriada do filme Zombieland, de 2009.
O terceiro grande nome a investir em programas exclusivos de streaming é o Hulu, que pertence a Disney, Fox e NBC e teve faturamento de US$ 420 milhões em 2011. Para 2013, o site de vídeos sob demanda estreará uma série animada chamada The Awesomes e a série cômica The Wrong Mans.
As plataformas se multiplicam e novas empresas correm para ocupar os espaços. Uma série lançada na internet pode ser vista não apenas no computador, mas no tablet, no smartphone ou na própria televisão, se for uma SmartTV ou se estiver ligada a um media center ou console de jogo com Wi-Fi.
Dois diretores de webséries brasileiras entrevistados pelo Link concordam que empresas como Netflix e Amazon estão melhor equipadas para entender a dinâmica da internet do que as emissoras tradicionais de TV. Guto Aeraphe, diretor de Heróis, é taxativo: “A Netflix não brincou quando idealizou House of Cards. Eles têm dados do que as pessoas consomem, como consomem, que tipo de material, qual dispositivo. É uma medição de audiência muito mais qualitativa do que a televisão tradicional.”
O QUE AS GRANDES ESTÃO PRODUZINDO
NETFLIX – HOUSE OF CARDS
Adaptação de uma produção da BBC britânica dos anos 90, House of Cards marca a primeira incursão de peso da Netflix em conteúdo original. A história é um drama político centrado no congressista Frank Underwood (vivido por Kevin Spacey), homem desprovido de escrúpulos em sua ascensão nos círculos do poder em Washington.
A direção dos dois primeiros episódios é de David Fincher, que assinou A Rede Social. Os Outros dez episódios da primeira temporada (estão previstas duas até agora) contam com diretores como Joel Schumacher (O Fantasma da Ópera) e James Foley (A Estranha Perfeita). Estima-se que a empresa tenha investido US$ 100 milhões na série.
HULU – THE WRONG MANS
Thriller cômico de seis episódios produzido em parceria com a BBC. A série traz os atores Matthew Baynton e James Corden como inocentes funcionários de um escritório que se envolvem por um acidente em uma perigosa conspiração. A estreia está prevista para o segundo semestre, mas o conteúdo da Hulu não está disponível para usuários brasileiros.
AMAZON – JAVI AND THE TREEHOUSE CLUB
A Amazon Studios busca novos talentos no público. Milhares de roteiros são avaliados. Os melhores ganham a produção de um piloto, financiado pela Amazon. Se o piloto agradar ao público, a produção segue em frente. São projetos como o infantil Javi and the Treehouse Club, do argentino Federico Badia. A animação relaciona toques de celular aos diferentes sons da comunicação animal.