terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Direto na internet


Mesmo sem tantos recursos, produtores brasileiros aproveitam a flexibilidade e produzem séries para a internet
Jotagá Crema, diretor da websérie 3% FOTO: Paulo Liebert/Estadão
Enquanto grandes empresas como Amazon e Netflix movimentam o cenário do conteúdo original para internet nos EUA, criadores brasileiros acompanham com interesse. O mercado local é limitado e boas ideias enfrentam uma batalha difícil para ir além do episódio piloto.
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“No Brasil, a capacidade de investimento e o retorno de publicidade ainda estão começando a crescer. Não há o mesmo montante da televisão tradicional”, diz o paulistano Jotagá Crema, diretor da websérie 3%.
Sua série, uma ficção científica distópica, pode ser considerada um dos grandes sucessos do formato.No ar no YouTube desde maio de 2011, as três partes do piloto somam mais de 700 mil visualizações. O dinheiro para a parte inicial do projeto, R$ 250 mil, veio de um edital da TV Brasil. Para dar continuidade e realizar os 13 episódios da primeira temporada, a equipe de 3% espera que a visibilidade no YouTube traga interessados no projeto.
Outra websérie brasileira de qualidade que saiu de um edital, neste caso da Lei Rouanet, foi Heróis. Dirigida pelo mineiro Guto Aeraphe, ela conta a história de três pracinhas brasileiros que enfrentaram sozinhos uma tropa alemã em número muito maior. “Ela nasceu como um média-metragem. Mas acabei partindo em episódios e coloquei de forma seriada na internet.”
Os diretores acreditam que o know-how de empresas como Netflix e Amazon deve incentivar a produção de conteúdo para a web. Há especificidades que merecem ser observadas. A ideia da Netflix de lançar os 13 episódios de House of Cards de uma vez foi considerada acertada.
Aeraphe remete à sua própria experiência com Heróis, em que os episódios eram semanais. “A audiência foi muito grande na primeira, depois vai caindo”, lembra. Para o diretor, a internet é um meio que provoca uma gigantesca distração, com a qual as séries têm de lidar.
“Estamos olhando uma coisa e de repente aparece outra do lado que nos convida a clicar e vamos lá. É um grande perigo para quem cria.” Em ApocalipZe, sua segunda série, os episódios foram lançados de uma vez.
“A audiência mais jovem tem menos paciência para esperar tantos episódios toda semana. Na internet, podemos assistir às obras de uma maneira não linear, tudo de uma vez ou vendo um por dia”, complementa Crema. Ele oferece um exemplo pessoal para a tendência. “Gosto de fazer cursos no Coursera (site de vídeo-aulas), mas não preciso seguir a ordem proposta. Minha maneira de estudar lá também é não linear.”
Sobre o tempo de um episódio, Crema acredita que é recomendável “que não passe muito de dez minutos”. Já Aeraphe fala em “oito minutos” como a duração ideal, mas elogia a possibilidade de um episódio não ter duração fixa por não estar sujeito às fronteiras de uma grade de televisão. “O que não pode é ser muito longo ou tão curto que não dê para desenvolver.”
O ano de 2012 assistiu a um boom de séries brasileiras para a internet. Mas o cenário segue independente, sem sinal de envolvimento de grandes emissoras ou empresas. Não é algo de todo ruim, segundo Aeraphe. “Infelizmente não tem jeito, somente quando os grandes trabalharem as webséries por aqui haverá abertura para o mercado. Mas quando isso ocorrer, os independentes estarão estruturados e profissionalizados, com um know-how que as TVs não vão ter”, diz. Crema completa: “Lentamente, elas estão acordando e percebendo que a internet não pode ser vista como acessório”.

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